Formações Audiovisuais na Associação Filmes de Quintal
A Associação Filmes de Quintal possui expertise em formações audiovisuais, com ênfase em povos indígenas, realizadas de forma presencial ou remota. Contando com associados em todas as áreas de conhecimento da cinematografia, da cinegrafia ao áudio, a entidade já produziu filmes selecionados em diversos festivais de cinema, realizados no âmbito de oficinas de realização.
Formações Audiovisuais sobre o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro
A Associação Filmes de Quintal executou, durante os anos de 2015 e 2016, o projeto de formações audiovisuais sobre o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, realizado em parceria com o IPHAN/AM. As oficinas, que integraram as ações de salvaguarda relativas ao Sistema Tradicional Agrícola do Rio Negro, tiveram a coordenação geral de Pedro Portella e Julia Bernstein, colaboração de Júnia Torres e Rafael Fares, e assistência jurídica e financeira de Diana Gebrim. Estas atividades contaram com a participação de 31 jovens indígenas dos Municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, que trabalharam os diversos modos de ver este patrimônio, agora, pelos olhos de seus detentores. Um DVD intitulado “Olhares Indígenas” reuniu a compilação de 10 filmes, dos 18 realizados por este projeto, que documentou, valorizou e divulgou o Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro. Esse patrimônio cultural do Brasil, reconhecido pelo IPHAN, desde 2010, diz respeito aos conhecimentos tradicionais indígenas que orientam o manejo do espaço da roça, a produção de alta diversidade de plantas cultivadas, especialmente de manivas, variedade de produção de artefatos e de pratos culinários típicos dessa região.
Experiências Indígenas em Gestão Territorial e Ambiental – PNGATI
Projeto executado pela Associação Filmes de Quintal, integra o EaD do Curso Básico de Formação em PNGATI da FUNAI, e foi patrocinado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GiZ). Realizado durante os anos 2020 e 2021, contou com a participação de 15 núcleos de produção audiovisual indígena presentes nos seis Biomas brasileiros, para a realização de 15 filmes sobre os eixos da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas.
Com coordenação geral de Pedro Portella, produção de Tatiana Bittar e gestão financeira de Ana Carolina Antunes, esta produção, realizada de forma remota, contou com a participação dos diretores Takumã Kuikuro, Alberto Alvares, Micheli Guarani Kaiowá, Edgar Xakriabá, Graci Guarani, Wewito Piãko, Shãtsi Piãko, Fran Baniwa, Patri Guarani, Maurício Ye’kwana, Davi Marworno, Mauro Katukina e dos coletivos Rejicars e Tingui Botó.
1ª Oficina Realizadores Indígenas / 2005 / 30min
coordenador: Divino Tserewahú
assistentes: César Tserennhodza e José Marinoni
Centro Cultural da UFMG, 21 a 25 de novembro de 2005
Em 2005, Divino ministra a primeira oficina no Parque Municipal para o público do festival. Divino é realizador da etnia Xavante da Aldeia de Sangradouro (MT) e líder do coletivo de autores do vídeo “Waptê Mnhõnõ, a iniciação do jovem Xavante”, premiado em vários festivais, e de outros documentários sobre rituais e questões políticas indígenas. Atualmente, através do projeto Vídeo nas Aldeias, exerce atividades de edição e formação junto a jovens realizadores indígenas, também presentes na oficina. Nessa ocasião Divino trabalhou com os assistentes César Tserenhódza e José Marinoni.
2ª Oficina de Realizadores Indígenas Forumdoc. / 2006 / 17min
2ª Oficina de Realizadores Indígenas Forumdoc.
realizador: Zezinho Yube Hunikui
equipe Filmes de Quintal: Pedro Portella, Cecília de Mendonça
Em 2006, recebemos o diretor Hunikuin, Zezinho Yube, que ofereceu a oficina para o público do forumdoc.bh, filmando na Praça da Liberdade. Zezinho é realizador do documentário XINÃ BENA, NOVOS TEMPOS (Prêmio Revelação Tatu de Prata, na 33ª Jornada de Cinema Internacional da Bahia) e morador da Terra Indígena Praia do Carapanã, uma aldeia próxima ao município de Tarauacá, Acre.
3ª Oficina Realizadores Indígenas
Realizadores: Jacyara Kaxixó e Glaisson Kaxixó
Filmes de Quintal, 26 a 29 de novembro de 2007
Equipe Filmes de Quintal: Pedro Portella, Cecília de Mendonça, Ana Carolina Antunes (monitora)
A Oficina de Realizadores Indígenas, em sua terceira vez consecutiva, teve como professores Jacyara Caxixó e Glaysson Caxixó. Os realizadores convidados nessa edição participaram das oficinas de vídeo do Curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas, ministrado pela Universidade Federal de Minas Gerais. As oficinas de vídeo desse curso atualmente dão ênfase à produção de filmes por um grupo de alunos/educadores das etnias Caxixó, Pataxó e Xacriabá, cujos territórios estão situados em Minas Gerais.
Na oficina de vídeo Caxixó na terra indígena Caxixó Capão do Zezinho, Glaysson Caxixó e Jacyara Caxixó trabalharam com Djalma, o cacique da comunidade. Foi uma profunda imersão num universo quase desconhecido para a nova geração Caxixó. Djalma mostrou fragmentos de uma cultura que passou por um período de abandono e esquecimento, mas que aos poucos retorna em suas herméticas palavras. Algo antes quase insondável agora ganha registro em vídeo: aos herdeiros deste legado resta a capacidade de desvendar e valorizar essas verdadeiras “arqueologias”.
No ano de 2007, os diretores Caxixó Jaciara e Glaysson, acompanhados do realizador Sherê Katukina, de sua companheira Creuza Carneiro Katukina, do diretor Isael Maxakali, de Sueli Maxakali e Mamé Maxakali, realizaram a oficina, voltada para o público do festival, na reserva ambiental da Mata da Baleia, em Belo Horizonte.
4ª Oficina Realizadores Indígenas
4ª Oficina Realizadores Indígenas
Realizador: Martin Maden
Filmes de Quintal, 01 a 06 de dezembro de 2008
Pedro Portella (Coordenação), Ana Carvalho e Cecília de Mendonça
Exibição: 07 de dezembro, 21h
Em edição especial, de 2008, recebemos Martin Maden, realizador da Papua-Nova Guiné, como realizador convidado. Maden iniciou a carreira estudando e filmando, de 1985 a 1990, no Ateliers Varan, em Paris. Desde então realizou vários filmes, dentre os quais “Stolat”, premiado documentário, que foi exibido ao lado de outros filmes do autor, durante a mostra Melanésia, no forumdoc.bh. 2008.
Oficina de Teoria e Prática do Filme Documentário e Etnográfico 2009
Coordenadores: Ana Carvalho, Cecília de Mendonça, Pedro Portella e Ruben Caixeta.
Fafich, 10 a 18 de novembro de 2009.
“Decidi virar diretor de cinema quando assisti uma sessão dupla: ‘Nanook, of the North’ (1922), de Robert Flaherty, e a ‘Idade do Ouro’, em um cineclube de uma pequena cidade. Foi então quando me dei conta de que o cinema não era só um divertimento mas também uma arte”.
(Aki Kaurismäki, diretor finlandês)
Integrando o Ciclo de Sessões Comentadas, Mesas-redondas e Debates com Adrian Cowell e Vincent Carelli, a oficina deu ênfase à integração entre quem filma e quem é filmado. Durante uma semana, os participantes assistiram aos filmes de Wang Bing e Adrian Cowell, e experimentaram algumas técnicas de abordagem em campo, a fim de pensar as relações no cinema documentário e etnográfico.
Oficina de Desenho de Som: Captação (2010)
Nicolas Hallet, Simone Dourado
Assistentes: Ana Carvalho e Cecília de Mendonça
Fafich, 16 a 20 de novembro de 2010.
“Abre-te, ouvido, para os sons do mundo. Abre-te, ouvido, para os sons da vida”
“Agora, nada faço além de ouvir…
Ouço todos os sons que correm juntos, combinados
que se fundem ou se sucedem
sons da cidade e de fora da cidade, sons
do dia e da noite” (Walt Whitman , Songs of Myself)
Em sua 6ª edição, a oficina de realização audiovisual do forumdoc.bh dedicou-se à captação de áudio e desenho de som no cinema documentário. Durante uma semana, os participantes foram convidados a refletir sobre o som (e o silêncio) como pensamento e linguagem dotada de características próprias, como aquilo que se revela e significa fora do quadro, conferindo novas camadas de sentido à imagem com a qual dialoga. A oficina teve como objetivo, também, apresentar diferentes processos de captação e suas adversidades, equipamentos e técnicas através de exercícios de campo e audição do material, assim como a apresentação de trechos de filmes que possuem projetos sonoros que dialogam com a proposta da oficina.
A oficina foi ministrada pelo diretor, roteirista e técnico de som formado em Cinema e Vídeo pela Academie de Beaux Arts de Bruxelas, na Bélgica, Nicolas Hallet, e pela diretora e técnica de som Simone Dourado. Simone e Hallet ministram cursos de desenho e captação de som desde 1999 e têm trabalhado em diversos curtas e longas em todo o país.
Maiores informações: Nicolas Hallet e Simone Dourado.
http://nicolashalletcinema.blogspot.com/
http://simonedourado.blogspot.com/
Oficinas Secretaria de Estado da Cultura / 2008
Em 2008, integrantes da Associação realizaram a oficina Teoria e Prática do filme Documentário no Festival de Inverno de Ouro Preto. Durante duas semanas, vinte alunos produziram quatro documentários de vinte minutos, que foram exibidos ao longo de agosto na TV Ouro Preto, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Também em 2008, a Associação Filmes de Quintal firmou convênio com a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais (SEC-MG), após vencer licitação pública, para realizar processos formativos em audiovisual nos municípios de Diamantina, Alfenas e Araçuaí. Tais oficinas dividiram-se em módulos teóricos – introdução à história e à linguagem do cinema – e módulos práticos, discutindo especificidades e estratégias de realização no documentário e na ficção enquanto discurso e representação do real. Como resultado, foram produzidas micronarrativas sobre o cotidiano das cidades escolhidas pelo projeto. Como fruto desses processos formativos foram realizados 09 (nove) documentários curta-metragem com os alunos. Um dos filmes resultantes (o documentário “Ausência”, realizado em Araçuaí) foi premiado na mostra Kinoforum, em São Paulo, nesse mesmo ano.
http://www.kinooikos.com/acervo/video/19205/#%20
Oficinas Quintal de Cultura
Em 2011, em seu primeiro ano de atividades, o Quintal de Cultura, Ponto de Cultura da Associação Filmes de Quintal, realizou um processo formativo de introdução à linguagem audiovisual, curadoria e produção de mostras de cinema. Com 50hrs/ aula, a formação aconteceu de forma descentralizada no Taquaril, no Aglomerado da Serra e em Lagoa Santa. Ao final da formação, os alunos curaram e produziram de forma colaborativa mostras de cinema em cada uma de suas comunidades. Confira no site do Quintal e o resultado desse trabalho: Aqui!
Nos próximos módulos de atividades do Quintal de Cultura estão previstas a formação em realização audiovisual e em elaboração e gestão de projetos culturais colaborativos.
1° Módulo – Oficina Academia dos Atores Irmandade da Pândega – Lagoa Santa
Articulador: Gercino Alves Batista
Equipe Filmes de Quintal: Carolina Canguçu, Milene Migliano e Roberto Romero
2° Módulo – Oficina Criarte – Serra
Articuladores: Jansey dos Santos e Reinaldo Santana
Equipe Filmes de Quintal: Ewerton Belico e Milene Migliano
3° Módulo – Ofidina Escola Municpal Alcida Torres –Taquaril
Articulador: Blitz
Equipe Filmes de Quintal: Flávia Camisasca e Glaura Cardoso Vale
Curso: Dilemas da observação com Eduardo Escorel / 2011
Curso ministrado pelo cineasta Eduardo Escorel, propondo uma discussão a partir da exibição de filmes de René Clair, Werner Herzog, K. Kieslowsky, de trechos de filmes brasileiros e da leitura de textos de Jean Epstein, E.T.A.Hoffmann e Edgar Allan Poe. 120 participantes.
Data: de 01 a 03 de dezembro de 2011
Horário: 14h às 17h
Local: Cine Humberto Mauro/ Palácio das Artes
Ementa
Três indagações e uma possível resposta
O percurso da observação e a passagem para a ficção
1ª. Qual é a ruptura em relação a A Janela de esquina do meu primo, de E.T.A. Hoffmann[1], realizada em 1840 pelo narrador de O Homem da multidão, de E.A.Poe[2]?
“Com a testa na vidraça, estava deste modo ocupado em perscrutar a massa, quando de repente apareceu um rosto (o de um velho decrépito, de uns sessenta e cinco, setenta anos de idade) – um rosto que imediatamente chamou e absorveu toda a minha atenção, por causa da absoluta idiossincrasia de sua expressão. […] ‘Que história fantástica’, pensei comigo mesmo, ‘não estará escrita nesse peito!’ Me veio então um ardente desejo de não perder o homem de vista – de saber mais sobre ele.”
2ª. O que levou Dziga Vertov, na primavera de 1926, a anotar o que segue em seu diário?
“Vi Paris adormecida[3] ontem no cine-teatro Ars. Fez-me sofrer. Há dois anos tracei um plano que coincide exatamente com esse filme. Tentei seguidamente encontrar uma oportunidade para implementá-lo. Nunca me foi dada essa oportunidade. E agora – o realizaram no exterior. Kino-olho perdeu uma de suas posições de ataque. Intervalo longo demais entre
ideia, concepção e realização. Se não nos permitem implementar nossas inovações logo, podemos estar correndo perigo de inventar continuamente e nunca realizarmos nossas invenções na prática.”[4]
3ª Qual é a nova ruptura feita por Jean Epstein em O Cinematógrafo visto do Etna ao descrever a filmagem de Montanha infiel, filme perdido, realizada em junho de 1923?
“[…] Todo o poço [do elevador] era recoberto de espelhos. Eu descia rodeado de eu mesmos, de reflexos, de imagens dos meus gestos, de projeções cinematográficas. Cada volta me surpreendia de outro ângulo. Há tantas posições diferentes e autônomas entre um perfil e três quartos de dorso quanto lágrimas no olho. Cada uma dessas imagens não vivia senão por um instante, assim que percebida, perdida de vista, já outra. Só minha memória retinha uma entre infinitas, e perdia duas em cada três. E havia as imagens das imagens. As imagens terceiras nasciam das imagens segundas.”
“Cada percepção é uma surpresa desorientadora que insulta. Nunca eu tinha me visto tanto e eu me olhava com terror […] me percebendo outro, esse espetáculo contrariava todos os hábitos de mentir que eu chegara a me fazer a mim mesmo.
Cada um desses espelhos me apresentava uma perversão de mim, uma inexatidão da esperança que eu tinha em mim. Esses vidros espectadores me obrigavam a me olhar com a sua indiferença, sua verdade. Eu aparecia para mim numa grande retina sem consciência, sem moral, com sete andares de altura. Eu me via sem ilusões alimentadas, surpreso, desnudado, arrancado, seco, verdadeiro, peso líquido”.
• Para tentar responder à primeira indagação, partiremos da (a) projeção dos 10’ iniciais de Tishe! (2002), de Victor Kossakovsky. Comentaremos, a seguir, (b) o conto A Janela de esquina do meu primo, de E.T.A. Hoffmann, publicado em 1822; (c) o registro heliográfico de Joseph Nicéphore Niépce, Vista da janela do escritório, feito
em 1827; (d) o daguerreótipo de Louis-Jacques-Mandé Daguerre, Boulevard du Temple, feito em 1838; e (e) o conto de E.A.Poe, O Homem da Multidão, publicado em 1840. Exibiremos, finalmente, Da janela do meu quarto (5’, 2004), de Cao Guimarães e Aterro do Flamengo (2010, 46’), de Alessandra Bergamaschi.
• Para tentar responder à segunda e à terceira indagação, exibiremos Paris adormecida (35’, 1924), de René Clair. Tomaremos como referência para comentar o filme o texto de Annette Michelson, Dr. Crase and Mr. Clair, publicado em October, Vol 11 ( Winter, 1979). Comentaremos, a seguir, O Cinematógrafo visto do Etna, de Jean Epstein, publicado em 1926; Las meninas (1656), de Velázquez e Mão com esfera espelhada (1935), de E.C.Escher. Diante da inexistência do documentário Montanha infiel, filmado por Epstein em 1923, poderemos mostrar um trecho de Le Tempestaire, dirigido também por ele em 1947. Exibiremos, finalmente, La Soufrière (30’, 1977 ), de Werner Herzog.
• Para tentar uma resposta sintética às três indagações anteriores, avaliando os dilemas da observação exibiremos e comentaremos a versão mais longa do sexto decálogo de Krzysztof Kieslowski, Não amarás (A Short Film about Love, 83’, 1988), comparando o início e o fim com os da versão mais curta (58’, 1988), que integra a série O Decálogo.
[1] Hoffmann, E.T.A., A Janela de esquina do meu primo. São Paulo: Cosac Naify, 2010. Concluído em abril de 1822 e publicado em maio do mesmo ano, foi a última narrativa completada pelo autor, falecido em junho de 1822 aos 46 anos.
[2] Poe, Edgar Allan, O Homem da multidão. Porto Alegre: Editora Paraula, 1993. The Man in the Crowd foi publicado em 1840.
[3] Paris qui dort (1924), René Clair [primeiro filme do diretor]
[4] Michelson, Annette (ed.), Kino-Eye The Writings of Dziga Vertov. Berkeley: University of California Press, 1984. 1926, 12 de
abril, p.163